Conheça as aves noturnas do Parque das Aves

Publicado por Parque das Aves em 20/07/2022

Atualizado em 24 de maio de 2023

Tempo de leitura: 9 minutos

Aqui no Parque das Aves, há duas áreas muito especiais onde é possível encontrar aves noturnas!

A primeira é a ala chamada de “Encantos da Noite”, que abriga aves exclusivamente noturnas (como o urutau e o tuju).

A segunda é a ala das corujas, que abriga inclusive espécies diurnas dessas aves (como as corujas-buraqueiras).

Além disso, em outros recintos do Parque das Aves, também temos algumas outras aves que são mais ativas de noite. No entanto, é nessas duas alas que mais as encontramos!

Então, que tal conhecer melhor essas espécies – e as suas incríveis adaptações para trocar o dia pela noite?

Conheça algumas de nossas aves noturnas

1. Urutau (Nyctibius griseus)

Presente em todo o Brasil, inclusive em áreas arborizadas dentro das cidades, essa espécie também é comum em bordas de florestas.

Como toda ave noturna, o urutau tem o hábito de cantar à noite! Não é á toa que muitos chamam esse animal de “mãe-da-lua”.

Porém, durante o dia, ele fica completamente imóvel por longos períodos.

Inclusive, por meio de duas fendas na pálpebra de cima dos olhos, ele consegue espiar os arredores mesmo de olhos fechados!

Apesar de não haver diferenças nas penas de machos e fêmeas, essas aves podem apresentar duas colorações nas penas: a fase cinza e a fase marrom.

Os urutaus podem viver cerca de 14 anos, sendo que filhotes e jovens têm uma coloração mais clara.

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O urutau tem a incrível habilidade de observar o mundo mesmo de olhos fechados, usando duas fendas na pálpebras! Foto: Equipe do Parque das Aves.

2. Tuju (Lurocalis semitorquatus)


Também conhecido por outros nomes curiosos (como bacurau-de-cauda-curta e curiango-de-costas-brancas), o tuju se alimenta de insetos que captura em pleno voo!

É comum sobretudo no Sul e no Sudeste do Brasil, tanto em matas, quanto em áreas urbanas.

Chegou o pôr do sol? É hora do tuju acordar!

Assim, a partir desse momento, a ave fica mais ativa, começando a voar atrás de insetos e a vocalizar!

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Quando o tuju está bem paradinho, pode ser difícil encontrá-lo pousado na árvore! Foto/Reprodução: Andrew Whitworth.

3. Corujinha-do-mato (Megascops choliba)

Como o nome sugere, as corujinhas-do-mato são bem pequenas.

Elas vivem cerca de 20 anos e, quando chega a hora da reprodução, não costumam construir ninhos: aproveitam cavidades feitas por outros animais.

Inclusive, essa simpática espécie busca abrigo diurno em buracos feitos por outras aves: os pica-paus.

E, aproveitando ao máximo a engenharia da natureza, também gosta de se esconder em cupinzeiros abandonados!

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Como o próprio nome diz, as corujinhas-do-mato são muito pequeninas. Foto/Reprodução: INaturalist – Luiz Gusmán.

4. Corujinha-sapo (Megascops atricapilla)

Às vezes, as corujinhas-sapo são confundidas com as corujinhas-do-mato.

Inclusive, seus hábitos de reprodução também são parecidos! Então, assim como suas “parentes”, as corujinhas-sapo também aproveitam ninhos abandonados por outras aves, como os bem-te-vis.

No entanto, apesar do nome “corujinha-do-mato”, a corujinha-sapo vive mais no interior de florestas densas que a sua prima!

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A pequena corujinha-sapo, uma espécie que costuma ser confundida com a corujinha-do-mato. Foto/Reprodução: INaturalist – Dario Sanchez.

5. Coruja-orelhuda (Asio clamator)

A coruja-orelhuda é uma coruja média: nem tão pequena como uma corujinha, nem tão grande como um corujão!

No entanto, apesar do nome, ela não possui orelhas. Seu ouvido, como o de outras corujas, é interno. As “orelhas” são, na realidade, penas!

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Um lindo filhote de coruja-orelhuda. É ou não é apaixonante? Foto: Equipe do Parque das Aves.

6. Suindara (Tyto furcata)

Assim como a coruja-orelhuda, a suindara também é uma coruja média.

Uma suindara pode viver até 15 anos e, durante esse período, consome incontáveis roedores, principalmente próximo de habitações humanas, sendo considerada uma das aves mais úteis do mundo!

Aliás, ela se adaptam tão bem às áreas urbanas que faz ninhos em torres de igrejas e dentro de outras construções.

Por isso, também recebe o nome de “coruja-da-igreja”, “coruja-do-campanário”, “coruja-das-torres” e “coruja-de-celeiro”!

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Por consumir incontáveis roedores, a suindara é considerada uma das aves mais úteis do mundo. Foto: Equipe do Parque das Aves.

7. Murucututu (Pulsatrix perspicillata)

A murucututu é uma coruja bem grandes, com o dobro do tamanho das corujinhas! Ela também vive por mais tempo: sua expectativa de vida é de até 25 anos.

Em geral, utiliza ocos de árvores, fendas de penhascos e outras cavidades naturais como ninhos.

Então, quando nascem, os jovens são diferentes dos adultos: possuem a plumagem branca!

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A murucututu é uma coruja bem grande, com o dobro do tamanho das corujinhas! Foto: Equipe do Parque das Aves.

A importância das aves noturnas

Muitas aves noturnas, como as corujas, são grandes predadores de outros animais.

Assim, ao se alimentarem, mantêm em equilíbrio as populações de roedores, anfíbios, répteis, aracnídeo e, no caso dos urutaus, insetos!

Inclusive, um casal de suindaras pode comer mais de 3 mil ratos por ano!

Assim, elas evitam a proliferação exagerada de diversos animais, prevenindo doenças nos ecossistemas e protegendo a saúde dos humanos.

Por isso, resguardam o equilíbrio nas cidades, plantações e florestas!

Além disso, pesquisas já apontam que algumas espécies de corujas ajudam a indicar a qualidade do ambiente – ou seja, só habitam áreas com o mínimo de conservação, onde consigam um determinado número de presas.

Inclusive, esses estudos indicam que a perda dessas predadoras pode causar efeitos negativos para outras espécies de florestas tropicais.

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A coruja suindara é muito importante para evitar a proliferação de ratos, tanto nos centros urbanos como nas áreas rurais. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Também vale lembrar que aves noturnas caçam presas noturnas.

Então, cada predador adapta o seu horário de atividade de acordo com o horário de atividade das presas.

Portanto, dormir na hora certa (ou seja, de dia!) permite que as aves noturnas sigam tendo um determinado tipo de alimentação, o que influencia na população de certas presas e, por consequência, em toda a cadeia alimentar.

Por isso, alterações nos horários de atividade dos animais podem alterar toda a dinâmica da natureza!

A anatomia de uma caçadora

A própria anatomia das corujas é perfeita para a caça. Por exemplo, elas possuem incrível habilidade de girar a cabeça a 270° graus!

Humanos, em geral, não giram a cabeça mais de 180°. Então, elas giram um pouquinho além do “ombro”.

Em resumo, essa habilidade ajuda muito na hora de caçar, pois o globo ocular dessas aves praticamente não se movimenta: seus olhos são fixos como a lente de um telescópio. Afinal, elas não podem perder a presa de vista!

Então, para conseguir girar a cabeça dessa forma sem se machucar, as corujas contam com diversas características especiais.

Por exemplo, elas possuem um número de vértebras maior, além de “espaços” cheios de ar entre elas. Além disso, possuem artérias mais largas, que ajudam o sangue a circular durante a rotação! Demais, né?

Imitando a alimentação da natureza

Por serem exclusivamente carnívoras, elas precisam receber presas para que tenham uma alimentação balanceada e nutritiva.

Portanto, criamos roedores especialmente para alimentá-las, dentro do nosso biotério, que é um espaço específico para essa finalidade.

Além disso, as presas são abatidas antes de serem ofertados às serpentes, seguindo as diretrizes vigentes de ética e bem-estar animal.

No caso dos urutaus, grandes consumidores de insetos, oferecemos tenébrios, tenébrios gigantes, baratas e crisálidas desidratadas duas vezes ao dia.

Além disso, as aves ganham ração para guarás, ração úmida para gatos e suplementação de aminoácidos e cálcio, conforme orientação do zootecnista responsável.

Inclusive, um dos maiores desafios para manter urutaus sob cuidados humanos é simular a alimentação deles, que normalmente ocorre em pleno voo.

Porém, como os os urutaus que vivem no Parque das Aves chegaram aqui ainda jovens, logo se adaptaram à dieta desenvolvida pela Divisão de Nutrição Animal do Parque das Aves.

Corujas são sinal de boa sorte

Todos os anos, muitas corujas são vítimas de maus tratos, por conta de mitos e lendas que relacionam essas aves à morte, às trevas e ao mau agouro.

Assim, essa aura de superstição já levou muitas pessoas a não simpatizar com corujas, além de incentivar a crueldade contra elas.

No entanto, nenhuma dessas histórias tem fundamento e, felizmente, por conta de ações de educação ambiental, hoje mais e mais pessoas pessoas enxergam a beleza e a importância desses animais.

Além disso, em diversas culturas, as corujas são símbolo de prosperidade, boa sorte e sabedoria.

Por exemplo, o nome científico da coruja-buraqueira (Athene cunicularia), foi dado em homenagem à deusa grega Athena, que representava a inteligência e a sabedoria, e a sua cidade, Atenas.

Ainda por conta dessa ideia de inteligência, a coruja também é tida como símbolo dos professores, especialmente quando associada com uma toga e um diploma embaixo da asa.

Para os aborígenes australianos, as corujas também tem um significado positivo: representam as almas de mulheres que faleceram.

Com esses significados positivos, a aversão, o preconceito e medo diminuem bastante.

Nos filmes de fantasia, as corujas são consideradas seres mágicos, com poderes místicos… e, na vida real, são essenciais para a saúde do meio ambiente e a nossa, merecendo todo o nosso respeito!

Caçadores de noite, mestres da camuflagem de dia

Durante o dia, as aves noturnas dormem nas árvores, onde ficam protegidas de predadores. Assim, elas conseguem repor as energias em segurança… para voltar a caçar durante a noite!

No caso dos urutaus, por exemplo, o comportamento natural de descanso envolve permanecer imóvel por muitas horas.

De fato, os urutaus se camuflam tão bem, que chegam a ser confundidos com troncos de árvore!

Inclusive, por conta dessa camuflagem perfeita, algumas pessoas chegam a achar que esses animais estão machucados ou doentes. Então, acabam “resgatando” o animal sem necessidade.

A veterinária Lígia Oliva no recinto dos urutaus. Repare como eles se camuflam bem com os troncos! Foto: Equipe do Parque das Aves.

Vale lembrar: se ver um animal nesse comportamento de repouso, deixe-o em paz! Todos os seres precisam descansar, né?

E, nesse caso, a última coisa que ele precisa é de perturbação… ou de um resgate desnecessário!

Como cuidamos de aves noturnas resgatadas

Só em 2022, já recebemos 4 corujas, 2 urutaus e 1 tuju oriundos de resgate.

Em geral, são filhotes e adultos encaminhados pelos órgãos ambientais para avaliação e/ou tratamento.

Ao receber qualquer animal, o primeiro passo é fazer a avaliação veterinária.

Assim, se a equipe técnica constatar que o animal está bem, ligamos para o órgão ambiental e solicitamos a devolução imediata do animal, no mesmo local onde foi encontrado.

Contudo, se o animal realmente estiver machucado ou debilitado, ele passa por tratamento em nosso hospital veterinário.

Então, se ele se recuperar e estiver apto à soltura, seguimos o mesmo procedimento de contatar o órgão ambiental e acompanhamos a soltura.

Porém, se ele não se recuperar, ou se ainda for filhote e não tiver condições de sobreviver sozinho, permanece conosco no Parque das Aves.

Sempre que possível, esses animais passam por reabilitação e retornam ao ambiente natural.

No entanto, quando não podemos devolvê-las `à natureza devido a sequelas físicas ou impedimentos comportamentais, eles permanecem sob os cuidados do Parque das Aves.

Todos os nossos urutaus e tujus foram resgatados, por serem filhotes precisando de cuidados ou por estarem feridos.

Também é o caso das corujinhas-do-mato e das corujinha-sapo (cujo indivíduo mais velho mora no Parque desde 2002), e das suindaras (cujo indivíduo mais velho está no Parque desde 2009).

Como ajudar as aves noturnas

Caso veja uma ave noturna descansando, deixe-a repousar em paz! Evite interagir ou resgatar aves desnecessariamente (especialmente ninhos e filhotes).

No entanto, se o animal realmente estiver ferido ou em perigo, acione o órgão responsável por resgate de fauna na sua região (que pode ser os bombeiros ou a polícia ambiental, por exemplo). Essa conduta é muito importante, pois pode salvar a vida do animal.

Por fim, como as ameaças às aves noturnas tem a ver com mitos e superstições, é preciso educar as pessoas. Assim, aqui no Parque das Aves, acreditamos que o encantamento pode inspirá-las a protegerem essas aves.

E, claro, você pode fazer a sua parte, divulgando a importância e a beleza desses animais!

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Lígia Oliva, responsável pelo hospital veterinário do Parque das Aves, examinando um pequeno urutau. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Conheça nossas aves noturnas pessoalmente

Quando vier a Foz do Iguaçu, visite o Parque das Aves e venha conhecer as aves noturnas da Mata Atlântica! Estamos em frente às Cataratas do Iguaçu. Veja mais detalhes sobre a visita aqui!

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O Parque das Aves é um espaço de conexão única com a Mata AtlânticaFoto: Equipe do Parque das Aves.

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