O solo onde cresce a Mata Atlântica merece atenção

Publicado por Parque das Aves em 14/04/2022

Atualizado em 24 de abril de 2025

Tempo de leitura: 7 minutos

Para conservar uma floresta, é preciso olhar para onde ela cresce: o solo. Conheça importância do solo da Mata Atlântica!

Quando pensam em uma floresta, muitas pessoas lembram de árvores, flores e animais. E, de fato, as florestas abrigam uma enorme variedade de seres vivos. Porém, toda essa biodiversidade não seria possível sem um ingrediente essencial: o solo.

O solo de uma floresta diversa e rica como a Mata Atlântica leva milhares de anos para ser formar, a partir de partículas de rochas vindas de diversos lugares. Um lento e diário processo de decomposição transforma seres que morrem em nutrientes, que permitem o desenvolvimento de espécies de plantas, que vão alimentar animais… reiniciando o ciclo!

Então, o solo é fundamental pela sua capacidade de alimentar a vida – na forma de plantas, fungos, bactérias ou animais.

base de árvore e solo de floresta

Uma floresta exuberante e cheia de vida só é possível quando há um solo protegido e fértil. Foto/Reprodução: Pixabay/DaveMeier.

Cada solo é único

Dependendo das condições do ambiente, cada solo apresenta características físicas e químicas completamente diferentes. De fato, essa é uma das razões pelas quais a vegetação é diferente em cada lugar, alterando também os animais que vivem ali.

Por exemplo, o solo na Mata Atlântica é extremamente úmido, pouco ventilado e recebe pouca luz solar. Esse conjunto de características facilita a colonização do solo por fungos e bactérias. Por sua vez, esses pequenos seres participam de ciclos biológicos e químicos que tornam os nutrientes disponíveis para as plantas, que alimentam os animis, recomeçando o ciclo.

E é por conta dessa grande orquestra da natureza, onde cada um faz o seu papel, que a vegetação da Mata Atlântica se torna mais variada e exuberante.

Assim, embora seja esquecido em muitos momentos, o solo permite que a floresta exista, abrigando uma biodiversidade incrível em suas raízes, caules, folhas e copas.

Um solo protegido permite que uma biodiversidade fantástica se desenvolva.
Foto: Equipe do Parque das Aves.

Um solo protegido permite que uma biodiversidade fantástica se desenvolva.

Uma grande floresta começa (e termina) no solo

Desde pequenos, aprendemos que, para uma planta crescer, é preciso que uma semente caia na terra. O que nem sempre nos damos conta é que, para formar essa terra, é preciso muito, muito tempo. O solo é o resultado de um processo longo. Sua origem está nas rochas que se desintegram pela ação do clima, da água, do vento e do tempo.

Inclusive, esse processo também tem influência do relevo, e cada paisagem cria um tipo de solo diferente. Com tantos “ingredientes” distintos, a variedade de solos que existem é realmente impressionante! Além disso, o solo também é o recurso mais importante dos países, já que é nele que cresce o alimento da população.

Porém, assim como uma grande floresta depende do solo… o solo também depende de uma grande floresta. É um ciclo que se alimenta, pois a floresta traz a umidade e os nutrientes que tornam o solo fértil.

Os seres da floresta interferem na qualidade do solo, e o solo nos seres da floresta.

Os seres da floresta interferem na qualidade do solo, e o solo nos seres da floresta.

Restaurando a floresta perdida

Segundo um estudo solicitado pela Organização das Nações Unidas (ONU), restaurar 30% das áreas prioritárias em ecossistemas poderiam evitar mais de 70% das extinções de espécies. De fato, a pesquisa identificou bilhões de hectares de terras restauráveis, em todos os continentes. E o Brasil possui muitas delas, principalmente na Mata Atlântica.

Afinal, essa é uma das regiões mais devastadas do Brasil: somente em torno de 12% da floresta que existia originalmente ainda está de pé. Por isso, esse bioma brasileiro é alta prioridade global. Porém, é impossível restaurar as áreas de Mata Atlântica desmatadas e degradadas sem pensar no seu solo.

A restauração da Mata Atlântica é considerada uma prioridade global.
Foto: Equipe do Parque das Aves.

A restauração da Mata Atlântica é considerada uma prioridade global.

Erosão, um processo natural acelerado pelo homem

Um dos objetivos principais de restaurar áreas degradadas e recuperar florestas perdidas é evitar a erosão. De forma simplificada, a erosão é um processo em que a água, o gelo ou o vento arrastam e transportam as partículas que formam o solo.

Em resumo, podemos dizer que a erosão é a grande escultora do relevo, que está sempre moldando as nossas paisagens. Então, esse é um processo natural, que acontece todos os dias há milhares de anos.

Inclusive, esse processo envolve muitos fatores, como o clima, a vegetação, o tipo de solo e as características geológicas do local. Por exemplo, nosso país costuma ter chuvas frequentes. Então, com a água arrastando a terra, a taxa de erosão é maior.

Porém, diversas atividades humanas, como o desmatamento e as queimadas, aumentam a frequência e a intensidade da erosão.

O uso incorreto da terra deixa o solo exposto ao sol, ao vento e à chuva. Então, nas áreas desmatadas, a ausência de árvores para segurar a chuva faz com que a água infiltre no solo de forma rápida e exagerada.

Assim, a erosão acelerada causa vários problemas, como deslizamentos de terra, acúmulo de detritos nos rios e remoção dos insumos agrícolas colocados em colheitas (muitas vezes, justamente para que o solo fique mais fértil).

Então, podemos dizer que um leve desequilíbrio em um fator ambiental pode causar um monte de problemas sociais e econômicos.

Portanto, com boas práticas de conservação do solo, é possível evitar a erosão e garantir a produção!

Plante restauração, colha prosperidade

Felizmente, as estratégias para cuidar do solo são diversas. De fato, para cada caso, aplicamos uma técnica diferente. Algumas delas são:

  • Plantio direto;
  • Rotação de culturas agrícolas;
  • Alternância de capinas;
  • Criação de culturas em faixas;
  • Controle das queimadas;
  • Proteção das matas ciliares nos rios;
  • Cobertura da terra com palhada;
  • Adubação verde;
  • Reflorestamento com espécies nativas;
  • Criação de sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta.

Então, com essas técnicas, podemos promover benefícios como impedir que a terra escape quando chove demais, manter a temperatura ideal para as plantas, reduzir a perda de água que evapora, proteger beiras de rios, tornar o solo mais poroso e criar refúgios para animais.

Lá onde cresce a nossa comida

Além desses benefícios, conservar o solo cria terras onde cada área plantada é aproveitada ao máximo. No entanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um terço dos solos do mundo está se degradando.

Inclusive, perdemos cinco milhões de hectares de terras cultiváveis todos os anos – e um dos motivos são as práticas agrícolas inadequadas. Essa situação é muito grave, pois quando o solo de um local está degradado, a tendência é procurar outro lugar para plantar. E, muitas vezes, a busca é pelo solo fértil de áreas de floresta.

Porém, a festa dura pouco. O desmatamento, que é comum no modelo tradicional de monocultura, interrompe as relações ecológicas que ali estavam. Então, o solo se desgasta – e o produtor agrícola precisa “corrigi-lo” com fertilizantes e aditivos químicos.

Por isso, diversas práticas de agrofloresta e agroecologia buscam manter ou recriar as relações ecológicas da natureza em seus cultivos, imitando o seu equilíbrio.

Assim, conservar o solo evita a perda de áreas produtivas, promovendo o desenvolvimento sustentável, que beneficia o agricultor e a sociedade.

Cuidar do solo é fundamental para a existência da vida na Mata Atlântica - do menor fungo ao maior mamífero. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Cuidar do solo é fundamental para a existência da vida na Mata Atlântica – do menor fungo ao maior mamífero.

Terra fértil sem descanso fica estéril

Verdade seja dita: a Mata Atlântica anda precisando de um descanso. Afinal, depois de séculos extraindo de recursos (como pau-brasil, cana-de-açúcar, café, madeiras e ouro), além de desmatamento para monocultura, pecuária e crescimento imobiliário, a conta enfim chegou.

Como bem diz o provérbio popular: “terra fértil sem descanso fica estéril.” Então, para o nosso próprio bem, cuidar do bioma de 70% da população brasileira – e do solo que a suporta! – se tornou uma prioridade máxima.

De fato, sempre que ignoramos o equilíbrio delicado das florestas, é preciso gastar bilhões em compensações para manter os solos em equilíbrio, o clima ameno e a colheita em dia.

Felizmente, restaurar áreas degradadas não atrapalha o desenvolvimento da agricultura. É totalmente possível recuperar essas áreas sem perder a produção atual.

Inclusive, essa abordagem traz benefícios ambientais e sociais que diversificam e fortalecem a economia. Além disso, a restauração também melhora a qualidade da água, do solo e da polinização – três elementos essenciais para a agricultura.

Se o solo é vida, protegê-lo é vital

Com responsabilidade e a ajuda da ciência, podemos construir soluções inteligentes que não apenas respeitam a Mata Atlântica… mas também a regeneram. Então, quando entendemos e respeitamos seus ciclos, usamos a terra de um jeito mais racional, que mantém ou melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

Dessa forma, reduzimos a necessidade de fertilizantes e agrotóxicos, barateamos a produção de alimentos e evitamos a contaminação de pessoas e da natureza.

Assim, se o solo é o início da vida… exigir e apoiar ações públicas e privadas que promovam seu uso consciente é, literalmente, vital.

Sem a proteção do solo, a vida não pode existir. Foto: Equipe do Parque das Aves.

Sem a proteção do solo, a vida não pode existir.

Sobre o Parque das Aves

O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado do Paraná depois das Cataratas, completou 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.

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